O lado B de Berlim: um roteiro de seis dias que vai do turístico ao alternativo

Eu estive em Berlim em três ocasiões diferentes. Na primeira tinha 13 anos e acompanhei minha mãe numa viagem de trabalho. Logicamente não vi quase nada da cidade, pois era muito nova e não sabia muito bem como me movimentar sozinha num país em que eu não falava a língua direito.

A segunda foi uma das melhores viagens da minha vida. Apenas eu e minha irmã, por 3 dias, sendo que dormimos um total de 6 horas. Aproveitamos muito, mas acabamos fazendo muitas coisas tradicionais, como o Free Walking Tour, o Alternative Tour, Pub Crawl e Tour pelo campo de concentração de Sachsenhausen. Foi quando me apaixonei pela cidade.

Mas, a terceira, foi a melhor. Novamente com minha irmã, mas agora também com o marido dela, decidimos fazer coisas diferentes e fugir dos programas de turistas tradicionais. Fomos pra sentir a vida noturna, ouvir música techno, tentar entrar nas baladas exigentes da cidade e ir nas festas à beira do rio.

Sachsenhausen, campo de concetração em Berlim

Nem ficamos em hostel. Alugamos um apartamento pelo Airbnb em Kreutzberg, que de acordo com muitos brasileiros, é a “baixa Augusta de Berlim”. Fizemos as contas e acabou valendo mais a pena alugar um apê para três pessoas do que um quarto de hostel em que teríamos que dividir banheiro, trancar malas e compartilhar quarto com estranhos. O preço era quase o mesmo.

Vale lembrar que Berlim é uma cidade grande, portanto é sempre bom comprar o ticket do transporte público. Você vai pegar muito metrô e ônibus, além de andar de um lado pro outro e descer e subir um monte de lances de escadas. Você pode querer viver no perigo e não comprar, mas se passar um segurança para checar os bilhetes e você estiver sem, a multa é de 60 euros. Por isso, é melhor comprar um ticket, pode ser semanal, de um dia, ou ir comprando por viagem. Ele conta para todas as formas de transporte, seja ônibus, metrô ou trem.

Fique tranquilo, todo mundo fala inglês. Berlinenses não são muito pacientes, mas a grosseria, pelo menos em Berlim, não é pessoal. Alemães são eficientes. Eles são rápidos e objetivos e esperam o mesmo de você. Não se ofenda se eles falarem um pouco mais alto e parecerem rudes, é o jeitinho deles.

Vida noturna em Berlim

Durante o verão anoitece muito tarde. Por volta das 22:30 o sol esta se pondo e cerca das 3:50 ele começa a voltar. Chegamos às 19h e o sol ainda estava alto. Fizemos uma viagem longa de trem e apesar de termos uma lista enorme de dicas dos nossos amigos que já tinham visitado a cidade, não sabíamos por onde começar. Fomos parar numa festa com tema africano na beira do rio que, inclusive, tinha um espaço com uma pequena Festa Junina em que você pagava 10 euros e poderia entrar pra comer as comidas típicas e ouvir música brasileira. Passamos longe.

Noite 1: Ipse

Foi apenas quando perguntamos para uma garçonete do restaurante onde jantamos que tivemos uma boa dica do que fazer: a Ipse. É uma balada perto da East Side Gallery, que naquele sábado à noite, estava fervendo no techno. Nem gostamos muito de techno, mas é Berlim, conhecida pela forte presença do techno e da música eletrônica. A Ipse fica no final de uma espécie de viela ao lado do rio e ao longo do caminho existem diferentes bares com mesas perto d’água. Alemães sabem como ocupar espaços públicos e a Ipse é um excelente exemplo disso.

balda ipse em Berlim

Na maioria das noites é preciso pagar 15 euros pra entrar na balada, um valor alto especialmente para os parâmetros de Berlim, mas vale a pena pela experiência. A pista externa tem um lustre que parece de cristal pendurado entre árvores, de frente para o DJ. O bar á grande e alto, e se você não quiser ferver na pista, pode sentar-se à beira do rio, no chão ou em algumas mesas e cadeiras improvisadas. Atrás do bar tem uma porta que leva para um corredor escuro e termina em uma grande pista interna. Essa sim estava fervendo no techno. Tudo escuro e com uma fumaça grossa que às vezes tornava impossível ver a pessoa na sua frente. Foi uma boa primeira noite.

Noite 2: beber por aí

No dia seguinte, resolvemos pegar mais leve. Bebemos um chopp Berliner na frente do Museu Bode, de frente para o rio e da Ilha dos Museus. Passamos a tarde lá, conversando, observando o movimento e ouvindo por tabela a valsa que tocava no bar ao lado, em que pessoas que realmente sabem dançar se divertiam, mesmo com uma chuva fina caíndo.

Noite 3: Tresor

Na terceira noite nos aventuramos na Tresor, uma balada de techno pesado. Não é simples entrar em baladas em Berlim. Se o segurança percebe que voce é turista, se você está fazendo barulho ou mostra que está bebado, ele não vai deixar você entrar. E não tem conversa. O segurança barrou um grupo de turistas na nossa frente, dizendo que só poderiam entrar se mostrassem o passaporte. Naturalmente, nós também não estavamos com os nossos, mas mantivemos a pose. Mostramos nossas carteiras de motoristas brasileiras e ele nos deixou passar. O lugar é grande, fechado, é permitido fumar e a música alta pode ser um pouco forte. Fique atento, pois tem muitas escadas. Aliás, tem muitas escadas na Alemanha em geral. É um país antigo, os prédios não costumam ter elevador e as estações têm poucas estadas rolantes, portanto, cuidado.

Turistando

Focamos os primeiros dias na vida noturna e nos bares, fazendo poucas coisas essencialmente diurnas, como caminhadas e tours. Fizemos compras, claro, comemos muito hambúrguer, Flammkuchen (um tipo de pizza tradicional alema com a massa bem fina), dönner (uma versão alemã do kebab) e Curry Wurst (a linguiça com molho curry, tradicional de Berlim).

Flammkuchen em Berlim

Portanto, no quarto dia, depois de muita cerveja boa, Jägerbomb (drink de Jäermeister com Red Bull) e techno, decidimos turistar um pouco. Visitamos por conta própria o Checkpoint Charlie, Memorial do Holocausto e a Brandenburger Tor. Não tire fotos sorrindo no Memorial, não suba nas pedras, não brinque de labirinto. É o memorial dos judeus mortos durante o holocausto, exige respeito. Inclusive, por toda a Alemanha existem placas de metal no chão em determinados pontos. As placas indicam os lugarem em que os judeus capturados durante a Segunda Guerra Mundial moravam, e pode-se ler o nome da pessoa, a data de nascimento e de morte, e para onde foi levada (Auschwitz, Sachsenhausen, etc). Quanto mais se pisa nas placas, mais elas brilham.

Não pudemos escapar dos tours completamente. Mas, para fugir do tradicional, descobrimos um tour nos Bunkers da Segunda Guerra Mundial. No Berliner Unterwelten E.V., uma empresa de tours underground em Berlim, ao lado da estação Berlin Gesundbrunnen, oferece vários tours diferentes como, sob o muro de Berlim e os caminhos utilizados pelas pessoas que queriam cruzar para o outro lado, os Bunkers da Guerra Fria e os da Segunda Guerra Mundial, entre outros.

bunker em Berlim

Fizemos o do bunker da Segunda Guerra, o Dark Worlds Tour. É um passeio de cerca de duas horas por um dos bunkers onde os civis se escondiam quando tinha bombardeido na cidade. É uma visita guiada, em inglês, e tem muita coisa original, como as placas nas pareces, a tinta especial para evitar pânico entre as pessoas que precisavam se esconder lá embaixo, peças de propaganda nazista e apetrechos de soldados.

Uma curiosidade: o pau comeu em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial. Diziam que quem controlasse Berlim controlava a Alemanha e quem controlasse a Alemanha, controlava a Europa (mentalidade que se estendeu até a Guerra Fria). Observe bem as paredes dos prédios antigos, pois são manchados e marcados por tiros de projétil.

Visitamos a East Side Gallery e nos escondemos da chuva no Museu do Ramones, bebendo uma cerveja alemã leve, a Beck’s. Mais tarde tentamos chegar a tempo para o jazz na Kunkerkranich, um bar roof top que custa 3 euros para entrar. Chegamos às 22h e fomos lembrados de que Berlim não é São Paulo. A banda tinha acabado. Mesmo assim, a vista e a cabine de foto valeram a pena.

Para finalizar, fomos à um bar de vinhos chamado Forum Weinerei no qual você paga 2 euros pela taça e bebe o quanto quiser, no esquema refil. Existe uma variedade de 15 vinhos e um buffet para se servir à vontade. No final, você paga o quanto achou que consumiu. Simples assim.

Berlin, ich liebe dich

Em suma, Berlim é uma cidade maravilhosa. Em apenas 6 dias visitamos lugares alternativos e turísticos, ouvimos techno, valsa e (quase) jazz. Comemos pratos típicos e hamburguers deliciosos (dica: Burgermeister em Kreutzberg, é como o Bullger em São Paulo, excelente hamburguer, barato, e, nao se engane pelo preço: a porçao de fritas é grande). Gastamos relativamente pouco e sobrevivemos bem. Passamos pelos perrengues de sempre, nos perdemos algumas vezes, pegamos muitas chuvas, bebemos cerveja quente e eu até caí da escada, mas valeu muito a pena. Estive em Berlim pela terceira vez, mas posso falar seguramente que pareceu a primeira. No final das contas, em lugares como Berlim, é sempre a primeira vez.

torre em berlim

Ps. A bola te persegue – A bola em questão é a Fernsehturm (ou, a Torre de Televisão). Todos os lugares que íamos, olhávamos em volta e lá estava ela, brilhando contra o sol.

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