A saudade de casa quando se está em casa

Estou morando em Lisboa há menos de um ano e tive, em agosto, a oportunidade de visitar o Brasil e matar um pouquinho da saudades que eu tinha de casa. Aviso aos navegantes: quando se mora fora, um mês é pouco tempo e você não vai conseguir ver todo mundo que queria. Já fica anotado, como dica para mim mesma, que da próxima vez tentarei ficar mais tempo.

Tudo fluiu bem: desde o voo até São Paulo, com pequenas surpresas agradáveis, até a chegada ao abraço aconchegante dos meus pais, que me receberam com um buquê lindo no aeroporto. É realmente maravilhoso poder estar com quem a gente mais ama. Ver meus amigos, que são parte da minha família, poder participar do casamento de dois deles, ver minha família querida e poder apertar minhas gatinhas, Missy e Nina, foi sensacional. Mas, o que eu não contava era com a saudades que eu sentiria de casa. E foi ali, naquele momento que o coração apertou, que desembaracei a confusão. Ora, como eu poderia estar com saudade de casa se eu estava em casa?

A gente não conta com o fato de que ir morar fora é ter duas casas. Eu estava morrendo de saudades do Brasil, da alegria em conviver com as pessoas que eu abracei para a minha vida, da minha casa, onde moram meus pais, da minha rotina, da possibilidade de ver meus amigos em 5 minutos. Mas, depois fui sentir saudades das minhas amigas com quem divido um apartamento aqui em Lisboa, de visitar a Praça do Comércio e admirar o Rio Tejo, da culinária portuguesa, de acordar com os dias lindos que fazem aqui, de me divertir com os costumes que contrastam – e muito – com os costumes brasileiros e me adequar a eles. Eu poderia passar horas listando o que me encanta em Lisboa para dizer que sim, senti saudade, mas jamais seria capaz de transmitir o sentimento saudosista esquisito que eu senti.

A verdade é que ir morar fora te traz um crescimento tão grande que você se vê confortável em duas casas. E você sente falta das duas de forma igualitária. Ao desembarcar do avião, eu respirei fundo e abri um sorrisão, aquele que quem me conhece pessoalmente sabe bem qual é, e suspirei aliviada: “tô em casa!”. Isso aconteceu em São Paulo e em Lisboa. Talvez esse sentimento seja uma das coisas que mencionei em um artigo anterior sobre o que um intercâmbio tem.

Muitas pessoas têm me procurado para pedir dicas ou tirar alguma dúvida sobre migrar para Portugal, mesmo sabendo que eu não sou consultora e que apenas falo de acordo com as experiências que eu tive. Mesmo assim, fico muito feliz em falar com elas e faço isso de coração aberto porque tenho convicção de que ir morar fora foi a melhor decisão que eu tomei por mim mesma nesses meus quase 30 anos de vida (é pouco, eu sei… Mas já é tanta coisa!). Tenho tanta gratidão por ter alcançado tudo aquilo que sempre sonhei que gostaria de poder ajudar outras pessoas a sentir o mesmo que eu sinto.

A lição que ficou, ao menos para mim, veio com as tantas experiências que vir morar fora me trouxe. É uma lição que, sem uma decisão inicial, difícil de ser tomada, a gente não vai saber o quanto pode crescer na vida, seja pessoal ou profissionalmente. Decidir sair da sua zona de conforto, estourar a bolha e ir se ver no mundo desconhecido te liberta de si.

Este conteúdo é de total responsabilidade do autor da coluna Flávia Stamato. Acompanhe também o instagram da Flávia.

 

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