“Largar tudo” para viajar? Não é bem assim
Hoje em dia, graças à internet, temos acesso a muita gente e informação. Por isso, não é difícil encontrar nos muitos canas e blogs de viagem que tenha saído para o famoso ano sabático. Essas pessoas vivem na estrada ou entre aeroportos por um longo período.
O meu feed, por exemplo, está invadido por lugares maravilhosos e pessoas felizes viajando pelo mundo. E qual é o problema disso? Nenhum. Desde que a gente não se iluda de que viver assim é sinônimo de felicidade e ter consciência que, na maioria dos casos, existe muito trabalho para ter “conquistado” esse estilo de vida.
Por isso, hoje eu quero contar a minha experiência.
A ideia da viagem
Sinceramente, eu não gosto muito de contar um plano que eu tenho antes de que ele se realize, mas vou abrir uma exceção. Principalmente porque eu quero dividir todo o trabalho que está por trás de algumas fotos que existem por aí.
Aqui em casa estamos (eu, meu parceiro e meu cachorro) a uns 8 meses de realizar uma coisa planejada há muito tempo: viver na nossa motorhome. Contei um pouco, sobre como viajar de motorhome em um outro post aqui no Já Fez As Malas. A ideia pode parecer muito legal para algumas pessoas e uma loucura para outras. O que eu posso garantir é: dá muito trabalho.
É uma mudança muito grande, que envolve muitas coisas e hoje vou contar algumas das ações que estamos tomando para tornar isso realidade.
Dinheiro
A pergunta que não quer calar. Quando a gente vê aquela pessoa viajando o tempo todo, a primeira pergunta que vem a nossa mente é: E o dinheiro? Isso acontece comigo também. E sinceramente, mesmo que alguns tentem convencer que pode ser fácil, eu não acho.
Quase sempre a resposta que você vê por aí é um simples “sou nômade digital”. Essa frase é tão ampla, tão ampla, que não responde nada. Afinal, mesmo para mim, que já cresci usando, sempre tive facilidade e sou fascinada pelo computador, tive que aprender muito para saber como toda essa gente ganhava dinheiro.
Na verdade, existem milhões de maneiras de trabalhar pela internet, mas em quase todas você vai ter que aprender sobre empreendedorismo, venda e contabilidade, por exemplo. Existem pessoas que vão ter mais facilidade, por causa das habilidades que têm, da demanda do mercado ou por terem empreendedorismo na veia e conseguirem transformar qualquer coisa em dinheiro.
O outro grupo vai penar muito, dar várias vezes com a “cabeça na parede” e terá que ter jogo de cintura e determinação. Não se sinta mal por isso, se for o seu caso. Eu também estou nesse último grupo. Depende de muitos fatores, mas de qualquer forma, eu ainda e sempre vou acreditar que qualquer pessoa consegue fazer o que quiser. Para algumas vai dar muito trabalho e um desgaste de energia tremendo e para outras vai ser mais tranquilo.
Como falar sobre formas de ganhar dinheiro online não é o foco do texto, vou contar como nós estamos fazendo de forma geral. O segredo do dinheiro não é só quanto você precisa ganhar. É quanto você ganha comparado com quanto você vai gastar. Uma pessoa que ganha 5.ooo€ e gasta 6.ooo€ está mal de grana. Uma pessoa que ganha 5.000€ e gasta 3.000€ está bem de grana. Simples assim.
Se você diminui o seu custo de vida, obviamente, vai ser muito mais fácil ter o dinheiro para se sustentar. Vivendo na motorhome o nosso custo de vida não aumenta, inclusive, achamos que ele vai diminuir. Já faz tempo que nós vivemos uma vida financeira bem controlada. Abrimos mão de um monte de coisas que seriam menos importantes para poder juntar dinheiro todos os meses.
Outra fonte de renda importante vai ser a nossa casa. Vamos alugá-la enquanto viajamos. Procuramos alguém que faça um contrato longo para ser mais fácil gerir e não termos problemas.
Eu já tinha feito alguns trabalhos como freelancer, mas nunca tinha levado a sério, como única fonte de renda. Agora, estou trabalhando muito para tornar isso a nossa maior fonte de renda na viagem. Resolvi voltar a fazer trabalhos de design gráfico e marketing digital. Também atendo como coach, mas é um trabalho mais complicado de levar por aí porque não posso garantir quando eu vou ter internet para os atendimentos. Existem mais ideias na cabeça, mas essas são as principais por enquanto. Estamos abertos para tudo e qualquer oportunidade que pareça viável.
O segredo é confiar também. Acreditamos que muitas respostas vão vir no caminho, principalmente compartilhando a experiência com as pessoas que vamos conhecer no decorrer da viagem.
Burocracia
A gente vive em um mundo que se diz globalizado, mas, sinceramente, estamos a anos luz de que isso seja verdade. Quando você vê como os bancos funcionam, os seguros e tudo que você precisa organizar para uma viagem assim dá para perceber que nada está adaptado para essa realidade.
Precisamos de um banco que seja vantajoso na hora de tirar dinheiro ou usar o cartão em outro país. É importante decidir como vamos gerenciar as nossas economias de forma simples. Também precisamos de um seguro de viagem, de saúde, do carro e do cachorro. Além de ter toda a documentação em dia, revisão do carro, mudar para que as nossas cartas cheguem na casa de alguém de confiança, entre outras tantas coisas.
Toda essa parte burocrática é incrivelmente chata e leva muito tempo e energia. Ainda temos mil coisas para resolver e, com algumas delas, não tenho a mínima ideia do que fazer. É preciso planejamente com tempo e muita paciência. Por isso, nós iniciamos todo esse processo desde o começo do ano e acreditamos que, até o final, vamos ter sempre algo que precisa ser tratado.
Minimalismo
Essa é a parte que eu estou mais animada! Desde que eu mudei pela primeira vez do Brasil, percebi que eu tinha muita tralha na minha vida. Já falei melhor sobre isso por aqui também. Hoje eu vivo com muito menos, mas é impressionante o que eu já consegui juntar em 4 anos morando aqui na Espanha.
Desde que decidimos que íamos viver na motorhome, toda vez que eu arrumava um pouco as gavetas de casa, tinha um objetivo: deixar uma delas vazia. Precisamos esvaziar a casa toda e seria uma loucura fazer isso tudo de uma vez. Então, ao longo desse ano, estamos esvaziando aos poucos.
Para juntar um dinheirinho, estamos vendendo tudo que a gente não quer mais e pode ser útil para alguém: celulares velhos, espadas decorativas, capacete, etc. Até uma câmera filmadora dessas antigas de fita a gente vendeu por 100 euros! Tem gente para comprar quase tudo, sério.
O dinheiro arrecadado das vendas é destinado para algo que nós estamos planejando comprar. Nesse momento, nosso objetivo é um computador. Então, toda a grana extra entra para a “poupança” do computador e não temos que usar o dinheiro guardado para a viagem. Além disso, também esperamos a época de promoção para comprar coisas caras como esta.
Também preciso diminuir muito a quantidade de roupas que eu tenho. A cada dia, percebo que muitas das roupas que eu guardo não tem mais nada a ver comigo e só ficam paradas no meu armário.
Estou animada com essa parte porque, hoje em dia, a quantidade de coisas que eu tenho me incomoda muito. Estou cansada de ter milhões de objetos que ficam lotando os armários e que eu nunca uso. Quero viver com o essencial.
Psicológico
À medida que a viagem vai chegando, vai mexendo mais com a gente. Manter a calma e otimismo é essencial para conseguir atingir alguns objetivos. Isso é lindo na teoria, mas na prática nem tanto. Tem dias que não existe positivismo que resolva a situação.
Uma mudança assim mexe com muitos conceitos formados na nossa cabeça como estabilidade, segurança, conforto e aceitação. E ainda tem o medo também. Uma hora você acha que nada vai dar certo e, logo depois, parece que foi a melhor ideia do mundo.
Precisamos nos apoiar. Quando um está mais otimista, ajudar o outro que não está e vice-versa. Conversar abertamente sobre o que passa na cabeça de cada um e sermos uma equipe acima de tudo.
Últimas considerações
Quando alguém fica sabendo do nosso plano, geralmente diz que nós somos corajosos. Sinceramente, eu não concordo. Acho que existem muitas decisões difíceis na vida. Hoje em dia, as pessoas acham que são corajosos os que fazem uma mudança de vida nesses moldes. Isso porque criaram um conceito de que isso é sinônimo de “largar tudo”.
Não estamos “largando tudo”. Só vamos testar se um certo estilo de vida vai nos fazer mais felizes. É algo que queremos experimentar e saber como é. Quase tudo está planejado e, no pior dos cenários, voltamos para casa com menos dinheiro. Não largamos nada. Estamos atrelados ao capitalismo, burocracia, pagar contas e tudo que envolve uma vida “normal”.
Para mim, coragem é colocar toda a família em um barco sem saber se vai sobreviver e talvez chegar em um país que você não sabe se vão te aceitar. A felicidade não é um estilo de vida e nenhum lugar “alcançável”. É simplesmente ajustar a sua vida e a sua visão para que possa ter mais momentos felizes que tristes.
Eu compartilhei só um pouquinho dessa mudança toda e se quiserem me acompanhar mais, podem seguir também meu projeto Tempo de Migrar nas redes sociais.
Até a próxima!
Este conteúdo é de total responsabilidade do autor da coluna Julia Queiroz. Siga também o blog da Julia.
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