Morar fora é ter sempre aquele fio de saudade

Após dois anos e qualquer coisa morando fora do Brasil, comecei a perceber alguns novos comportamentos em mim, hábitos novos e outros nem tanto, mas que tive que reaprender. Morar longe da família é mais complicado que eu pensava. Ao mesmo tempo que tem gosto de liberdade, tem gosto de privação.

Meu avô faleceu no final de 2018 e foi ai que comecei a rever a minha vida e as minhas escolhas. A morte foi algo que sempre trabalhei internamente, com a minha espiritualidade e lembro-me de uma semana antes de me mudar, perguntei à minha psicóloga o que eu faria se alguém próximo morresse quando eu estivesse longe. Aliás, esse assunto é algo tão pouco discutido nos blogs de viagem que me fez pensar que isso não fosse um problema, mas é.

Quando alguém vai embora, por mais preparado que você esteja, a dor é inevitável e ela fica pior quando você não pode nem abraçar as pessoas que aqui ficam. Quando meu avô faleceu, eu fiquei dois dias em casa sem trabalhar e foram dias intermináveis… Eu não conseguia falar direito com meus pais, minha irmã estava sofrendo muito e eu estava sozinha, sem saber o que fazer, sem poder abraçá-los. Considerei pegar um avião. Mas o que eu iria fazer?

Foi um dos poucos momentos de agonia que vivi desde que me mudei e descobri um apoio que eu não esperava receber: as meninas do meu trabalho foram extremamente carinhosas comigo, meus novos amigos que fiz também me acolheram e claro, o meu namorado não deixou de ficar do meu lado nem por um instante. Foi aí que eu vi que casa é onde você está e essa ideia é tão volátil como o ar.

Depois disso, resolvi reavaliar minhas escolhas: valia a pena morar tão longe quando a vida é assim? Um dia tudo está igual, no outro, passa um furacão e tudo leva. Em agosto de 2018 passei 15 dias no Brasil, vi todo mundo, visitei todos os lugares, fiz tudo igual que fazia quando lá morava. Foi bom demais, mas também bastante estranho: ao mesmo tempo que sentia parte, já me sentia deslocada. E olha que moro em Portugal há apenas dois anos!

Bem, casa é onde você está, certo? Descobri que me sinto particularmente nostálgica quando vejo as atividades dos meus amigos/família nas redes sociais, eles continuam fazendo tudo aquilo que eu também gostava de fazer mas eu resolvi mudar, eu resolvi ir embora e agora, o que me resta é ver os highlights das vidas de cada um, como se não houvessem dias ruins. Mas é disto que gostamos, não? De expor apenas os momentos bons da vida. E eu confesso que faço isso também. Acho que nunca postei uma foto minha limpando a casa ou trabalhando até madrugada. Ou chorando de saudades da família. E foi aí que eu percebi que a vida é uma constante de escolhas que nos moldam.

Eu escolhi viver longe e tenho de arcar com isto. Eu tenho muita sorte em ter uma família maravilhosa que me apoia sempre, que faz de tudo para vir me visitar… Mas sei também de pessoas que não tem tanta sorte assim e mesmo assim fizeram a mesma escolha que eu: e eu tiro o chapéu.

Morar fora é ter sempre aquele fio de saudade. E é diante dessa constatação que precisamos reavaliar as nossas escolhas: eu preciso mesmo sentir saudades?

Falando em saudade, no começo de janeiro, fiz uma viagem de três dias a Londres, a cidade que me despertou para o grande sonho de morar fora. Quando vi a “London Eye” desatei a chorar porque, “ó pá” (como dizem meus queridos portuguesinhos), era essa imagem que eu sonhava em ver há oito anos. Foi alí que a minha cabeça começou a mudar e hoje, eu moro pertinho dela! Eu consegui! Aí está a justificativa de todas as minhas escolhas.

E foi então também que me dei conta que sou muito privilegiada em ter pais que me permitiram juntar dinheiro para realizar esse sonho, que me motivaram e encorajaram desde sempre.

Os sonhos só são possíveis quando são sonhados em conjunto. Se você não tem ninguém para sonhar junto, seja esse alguém. Lembre-se que sonhos são também escolhas e elas sempre vem acompanhadas de renúncias.

Este conteúdo é de total responsabilidade do autor da coluna Melissa Costa. Acompanhe também o blog Fifty-Fifty.

 

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