Fazendo a vida caber em uma mala de viagem

Nos últimos meses, apareci por aqui com dicas mais práticas de como lidar com a sua imagem e o seu armário durante a mudança de país e também falei sobre como planejar as compras em uma viagem. A minha proposta principal ainda é essa, mas hoje eu quero contar sobre algo um pouco mais pessoal porque sei que algumas pessoas que me acompanham nesse espaço podem se reconhecer…

Eu não me vejo como minimalista, mas tenho um sonho antigo de fazer com que a minha vida caiba em uma mala. O meu armário já cabe faz um tempo, mas o resto ainda não.

Em 2017, resolvi transformá-lo em meta e estou chegando mais perto a cada dia.

Até mais ou menos 2012 eu era uma pessoa bem normal, com um armário bem maior do que eu precisava e muitas tralhas aleatórias da categoria “vai que”. Eu colecionava bolsas vintage e broches – e só dava gerais semestrais nos meus armários para mandar embora o que não servia ou estava velho demais, sem ir muito além disso.

Por volta de 2012, algo mudou e eu comecei o “destralhe” mais frequente e pesado – mandei embora até máquinas de costura e outros eletrônicos.

Eu vi minha vida ficar mais fácil a cada limpa. E peguei gosto pela coisa, mas o meu foco principal ainda era o armário (afinal, eu trabalho com isso).

Em 2014, eu até escrevi um livro com o passo a passo de como desentulhar o guarda-roupas e trazer mais praticidade para a vida.

Até que eu comecei com as mudanças… Em 2015, mudei de cidade. Em 2016, mudei de apartamento de novo e agora estou planejando mais uma mudança para o começo de 2018. E eu vou te falar que apesar de acreditar na questão da energia que se movimenta (ou fica parada), tenho mesmo é preguiça desse processo de empacotar, desempacotar e carregar peso.

A minha lógica é que o jeito mais fácil de lidar com a preguiça é tirando da frente tudo gera preguiça desnecessariamente. Quanto menos coisas eu tenho, menos tempo eu perco arrumando e mais fácil fica para aproveitar todos os outros aspectos da minha vida.

Em resumo, eu sou praticamente uma “destralhadora” ambulante, uma desapegada profissional. O meu marido brinca que a minha frase favorita (depois de “faz cafuné?”) é “amor, não tem nada aí pra doar, vender ou jogar fora?”.

Por isso, quando eu li uma matéria na Vida Simples sobre um livro chamado “Jogue Fora 50 Coisas”, pensei que teria tão pouco pra jogar fora que me contentaria com 20 itens apenas (a autora conta itens de uma mesma categoria como 1 só, então se você mandar 100 livros embora, anota apenas 1 na listinha).

As únicas coisas que sobreviviam às limpas anteriores eram a caixa de fotografias da infância e os portfólios, questionários de clientes e histórico profissional. Resolvi embarcar em mais uma limpa guiada com o propósito de me entender com essas promessas antigas.

Não preciso dizer que antes de chegar nessas caixas, eu já estava batendo as 40 coisas, né?

O “destralhe” das fotos foi uma experiência catártica. Durante a minha consultoria individual e em um dos meus cursos, eu proponho um exercício com fotos antigas, mas eu nunca tinha sentado e me proposto a organizar, separar e escanear uma-por-uma. Eu já entendia a importância desse histórico, mas organizar absolutamente todas de uma vez acabou levando isso pra outro nível.

A cada imagem, eu fui resgatando lembranças e enxergando como a minha relação comigo mesma foi montada e transformada.

Foto: arquivo pessoal

Lembrei de todas as coisas que não estão nas fotos porque eu não pude fazer, por causa de uma crença ou outra, e que hoje não passam de uma grande bobagem – inclusive estão bem incorporadas na minha vida.

Vi, inclusive, como esse sonho de levar tudo em uma mala surgiu e porque ele não tinha sido realizado antes.

Para além das imagens, lembrei das coisas que me disseram e também das coisas que eu nunca disse. Me coloquei de frente com tudo o que eu sentia falta de ter sido e também com o que eu nunca me permiti ser.

Foi bem curioso começar esse exercício por causa do meu sonho antigo de conseguir levar a vida inteira em uma mala de viagens, mas descobrir o quanto de bagagem eu ainda continuo a carregar. A gente acha que vai sair pelo mundão só com uma malinha pra buscar aquilo que falta, sem perceber que precisa resolver tudo o que carrega desnecessariamente antes, né?

Aí eu lembrei das minhas clientes. As reações que eu tive com as minhas fotos são as mesmas que muitas das minhas clientes têm pelas roupas.

Desde aquelas que me procuram na vontade de jogar o armário inteiro fora e começar do zero até as que não conseguem processar a ideia de desapegar. Lembrei das que entocavam meia vida no maleiro, como se o fato das roupas se esconderem ali fosse resolver todos os problemas que representavam.

Quando eu cheguei na parte do histórico profissional, lembrei de trabalhos que eu tinha esquecido completamente de ter feito. Celebrei todas as minhas experiências, da menos bacana para a mais incrível, e resolvi seguir o mesmo conselho que dou para quem atendo: abrir espaço para todos aqueles projetos que ficaram presos nas gavetas.

A autora do “Jogue fora 50 coisas” ainda é mais enfática. Ela te orienta a fazer a velha pergunta sobre como é a sua vida hoje, a vida que você tá construindo, e mandar embora tudo aquilo que não faz parte dessa visão.

E olha, eu entendo. Faz sentido. Eu uso a mesma lógica com as minhas clientes. Mas, como diz o ditado, no dos outros é refresco, então eu demorei pra fazer isso.

Mandei embora apostilas, desenhos antigos, papeladas diversas, credenciais dos meus tempos de cobertura da SPFW e até a penúltima das bolsas que me restava de quando eu ainda tinha uma pequena marca de acessórios (há quase 1 década!).

 

Foi a coisa mais libertadora que eu fiz.

Trouxe essa pauta hoje porque talvez você se encontre em algum desses extremos também. Se for o caso, quero te propor o mesmo exercício que propus para quem acompanha a minha newsletter.

Reflete aí: que bagagem você anda carregando além das coisas – especialmente as que estão escondidas naquela caixa que te espera há tanto tempo?

O que essa vontade de jogar tudo fora ou esse medo de não tocar em algumas coisas andam dizendo de outras questões da sua vida?

Eu volto aqui no mês que vem, mas antes disso eu vou adorar saber como foi esse exercício pra você!

Este conteúdo é de total responsabilidade do autor da coluna Érica MinchinSiga também o site da Érica.

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