O Espaço #13

Houve uma certa audácia de minha parte, quase que ultrajante, de falar de tempo sem mencionar espaço. Don’t worry, foi proposital.

Acontece que meus choques de realidade têm sido por demais extasiantes. Insisto aqui em reconhecer que há poucos indivíduos que realmente entendem o que se passa comigo agora. Entendem pois são eu mesmo, a olhar de volta pra mim, assim como sou eles. Mas persisto em escrever sobre isso aqui, ainda que em nada resulte.

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Pois bem, essa limitação espacial. Da mesma maneira que o tempo não existe, mas estou enlaçado por ele, assim também está o espaço. Toco, aperto, sinto, dor, calor, matéria. Dádiva e desperdício. Uma vez que toco aquilo que tanto desejo, há um momento de pura dádiva sensorial, seguido de queda brusca. E o espaço como desperdício, pois tantas vezes têm sido desnecessário tocar para sentir. Quantos abraços tenho sentido a quilômetros dos meus braços. Quantas porradas estou tomando sem ninguém encostar em mim. Quantas brisas no rosto me surpreendem sem que às vezes eu consiga nem mesmo respirar.

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Que mundo grande, cheio de espaço. É como se de nada adiantasse mergulhar em qualquer estrada, pelo tempo que fosse, que não conseguiria conhecer todos os espaços. Daí o intruso do Tempo vem aparecer na conversa com o espaço, pois, graças a ele, não daria tempo de conhecer todo o espaço nessa vida. Ainda bem que temos outras vidas (?). Dê licença, Tempo, estou tratando de espaço, aqui e agora.

Tenho me deparado com muito espaço. Cada lugar que chego tem um “conheça ali”, “já foi lá?”, “nossa, tem um lugar demais pra você conhecer”…

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Escolhas meu caro, escolhas. Aceites que não dará tempo (ah, Tempo, você de novo). Ainda que muito deste houvesse, qual seria minha verdadeira experiência nesse espaço? Há lugares que eu gostaria muito de conhecer, ver, estar, tocar. Mas aceito: não será possível conhecer todos os lugares. Ainda que doa, ainda que sofra, ainda que pareça desperdício estar na estrada e não passar “lá, ali, por ali”. É um desperdício, desde o início. Mas não é culpa minha nem fardo meu. É desperdício, mas é dádiva. Hei então de conhecer tudo o que conhecer. Ir até onde for. Estar até onde chegar.

Ah, coração, que calmaria te ocorreste nesse momento de redenção. Sentes a tranquilidade da tua realização? NÃO-verás-tudo. E está tudo bem.

Verei o que me for posto aos olhos. Estarei onde meus pés me levarem. Conhecerei o que as pessoas me mostrarem. E que alegria por isso. Dormirás em paz esta noite, coração. Deixa que da cabeça eu cuido quando a hora chegar.

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Antonio Machado

E não há como partir sem assumir: Tempo e Espaço, dádiva e desperdício. Criastes juntos o mundo e o que há nele. Perecível e instável, para que fosse contemplado.

Pode deixar que farei minha parte.

Fotos e comentários no Facebook: Efeito Borboleta (Victor Reider Loureiro)

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