WWOOF na Chácara Marfil Agroecológicos – #9

Após cruzar o primeiro Estado (de SP para PR), cheguei à Chácara Marfil, em Bocaiuva do Sul. Cadastrados no WWOOF, a Marfil Alimentos Agroecológicos proporciona experiências muito variadas, com foco na Agroecologia, mas com várias outras “frentes” (rs). Aqui vai um pouco da parte do trabalho, e no próximo post, as experiências humanas que encheram meu coração.

O local é lindo, e a história não é muito difícil de ser remontada. O Marfil, camarada com cara de bravo mas coração enorme, cheio de ideias e recebendo um “chamado agroecológico”, comprou a chácara a 30 km de Curitiba. No começo, queria plantar. Como fazemos planos pra vida, mas a vida faz planos pra nós, uma coisa levou a outra, até que se formasse o que há hoje. As tentativas de plantar não davam certo, o vale era sempre muito frio e nada sobrevivia. Mas Marfil não desistiu e, se envolvendo cada vez mais no assunto Agroecologia, ampliou seus contatos, possibilidades e seu bom trabalho gerou credibilidade.

Passou a manejar cereais, farinhas, grãos, tudo sempre orgânico/agroecológico, até criar o moinho, onde hoje acontece a embalagem e armazenamento dos produtos. A rede Agroecológica, tão interessante e que funciona tão bem com um pouquinho de esforço, proporcionou que tivesse uma barraca na feira de produtos orgânicos no passeio público em Curitiba, além de vender os produtos entre os próprios integrantes da rede, escolas, prefeituras, instituições, lojas e empórios.

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A essa altura, Marfil e sua querida esposa Darli, já moravam com os “avós Marfil”, e criavam seus quatro filhos. Amanda, que hoje tem uma cozinha vegetariana (com refeições maldosamente deliciosas hahaha), Fernanda, que casou com o Marco e tiveram a recém chegada Anita (coisa mais gostosa), a Manu e o José, meus dois mais novos companheiros de aventura (África nos aguarde!). Além disso, há os colaboradores do local, queridos Felipe e sua esposa, Dani, Gabriel e Julio, e o figura do Mario, personagem que contarei melhor mais tarde. Pronto, com essa historinha já dá pra entender um pouco o dia a dia da experiência WWOOF.

O pessoal lá é tão organizado, que semanas antes da minha chegada, a Fernanda me ligou pra fazer uma entrevista. Achei sensacional, assim alinhamos expectativas. Ela e o Marco sempre cuidaram dos voluntários, mas estão passando a função pra Manu e José, já que agora com a pequena Anita, estão de mudança. Na chácara, cada um tem sua casa, inclusive os voluntários. Uma deliciosa casinha de madeira, dois quartos, e tudo o que se precisa pra viver bem. Cozinha com alimentos da melhor qualidade, um chuveiro quentinho, lavanderia, entre outros benefícios carinhosamente pensados para a melhor experiência do voluntário. Além, claro, de uma bela vista pro campo e pros animais.

A rotina do voluntário é de 5 horas por dia, com início às 8h, normalmente pesando e embalando farinhas, grãos e cereais de todos os tipos no moinho. Pausa às 11h30, pros voluntários cozinharem, e retorno às 13h, encerrando o trabalho às 15h. Depois, o horário é livre. Mas o tempo passa muito rápido quando se está com pessoas sensacionais, com o corpo e a mente leves, fazendo o que acredita, não importa em qual nível.

Passar horas ali, na mesma atividade, embalando farinha (sujando-se inteiro de farinha de trigo), pode ser um pouco monótono, principalmente fazendo todos os dias. Mas eu conseguia me enxergar dentro de um processo muito mais coerente do que o que eu me encontrava antes. Há funções simples e estafantes, mas completamente necessárias, que compõem um cenário mais amplo da vida em sociedade.

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Posso soar incoerente em relação ao que fazia no meu emprego antes da jornada, mas as diferenças são gritantes, e não ficariam claras pra todo mundo. Mas também não preciso entrar muito nesses méritos. Não posso expressar claramente algo, pra quem ainda está envolvido demais em outros sistemas. Eu mesmo nunca havia ouvido falar de Agroecologia e tantas outras coisas com as quais estou tendo “contatos de primeiro grau” (rsrs). Portanto, isento, assim prossigo.

Além do trabalho no moinho, o voluntário auxilia na cozinha da Amanda, e as atividades variam, como descascaralho (sem trocadilho hahaha), separar molhos e outros produtos orgânicos, e preparar tudo pra feira. Ah, a feira! Ponto alto do trabalho de voluntário, onde todas essas pequenas realizações diárias de se sujar de farinha de trigo ou descascaralho tomam forma.

Acordamos todo sábado às 4h da matina (Marfil e família fazem isso TODOS OS SÁBADOS nos últimos 12 anos). Ainda escuro, muitas vezes um frio do cão, algumas vezes chovendo (minha primeira feira foi sob chuva), chegamos à praça do Passeio Público, onde o Felipe já montou a barraca (ele é maluco, chega na feira umas 3h da madruga). Descarregamos todas as frutas, verduras, legumes, cereais, grãos e farinhas, entre outros produtos orgânicos, e organizamos tudo da melhor forma pra freguesia. Ao mesmo tempo, a barraca da Amanda, que é quase um food truck, também é montada bem no centro da feira, pra freguesia ter lanchinhos orgânicos mais que apropriados durante a manhã.

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Com tudo montado e com os primeiros raios do dia, já tem freguês debruçado nos caixotes selecionando o que há de melhor. Daí em diante é frenético: dá bom dia aqui, estica uma sacola ali, pesa aqui, pega o dinheiro lá, devolve o troco aqui (ih, não era esse cliente), dá bom dia pro outro, pesa aquele ali, “quanto custa o tomate?!”, “quanto tá a cebola?”, “cadê meu cliente?!”, ouve o Felipe pegar no seu pé O TEMPO TODO: “repõe o óleo que vendeu”, vaaaamo Victor, se mexe, olha o feijão preto acabando”, você vê aquele pacote de arroz integral que você mesmo pesou e embalou durante a semana sendo vendido ali, na sua frente, dá bom dia, estica outra sacola, pesa, paga, pega e não pára. A feira rola num movimento só, das 7h às 12h30, mas sempre ficamos até umas 14h terminando de desmontar tudo. Loucura total, nem se vê a hora passar.

Isso tudo na barraca de produtos, pois na barraca da Amanda o negócio é tão tenso quanto! “Olha o pedido aqui”, “sai um café com leite”, “falta um quiche de abobrinha aqui”, “cadê o cliente da senha 29?!”, e assim se segue. Mas, no fim, todo mundo enche a pança de coisas gostosas, curte uma manhã de sábado agradável na praça, dança com criança (e como criança), e fica tudo bem. Voltamos à tarde pra chácara, descarregamos o furgão, e cada um segue pra sua casinha, exausto, pra descansar até quando convir. Cada sábado trabalhado na feira, rende uma folga proporcional na semana, normalmente tirada na segunda-feira.

Além dessas experiências, outras possibilidades se abrem. Eu e o casal de voluntários que compartilharam a casinha comigo, meus amados Antônio, Rachel, e o pequeno Joaquim, tivemos a oportunidade de participar de uma reunião da rede Ecovida de Agroecologia, realizada na chácara do Dario. É assim que a rede se constrói, com reuniões dos produtores e participantes, nas próprias propriedades, onde a avaliação dos produtos é feita pelos próprios participantes da rede, caminhando pelas plantações e trocando ideias. (foto 6).

É possível também ter algum contato, na própria chácara Marfil, com a terra e os animais. Possuem criação de galinhas e ovelhas, uma vaca, muitas frutas e hortaliças plantadas pra consumo próprio, e o gênio do Mario, que entende tudo de agricultura biodinâmica e outras formas de cultivo. Basta estar engajado em perguntar, conhecer, trabalhar, pois a família Marfil literalmente abre as portas para troca de vivência e conhecimento.

Mais um conhecimento agregado para, quem sabe, no futuro, colocar em prática outros projetos que nascem nessa minha mente conturbada. (muá há há!)

Pra conhecer mais sobre Marfil e Agroecologia, (além do Google, é claro): www.marfilagroecologicos.com.br ou no Facebook.

Fotos e comentários no Face: Efeito Borboleta (Victor Reider Loureiro).

Obs.: O conteúdo é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião do Já Fez as Malas.

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