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Primeira semana – Novos mundos #5

Foram 45 minutos de casa até a primeira parada em Itapecerica da Serra, ainda em SP. Era um sítio em meio a outros e bati na porta errada. Quando virei as costas, estavam Gidon e Maamnah, sua filha, me olhando do outro lado da rua. Em frente ao muro do sítio, um ônibus das Doze Tribos (até então não fazia ideia do que encontraria). Uma saudação mais comum do que parece, me passou uma sensação boa, diferente do comum: “Bem-vindo”.

O sítio era como qualquer outro: Uma grande casa, espaçosa o suficiente para 14 pessoas morarem (um pouco apertada, contando com as crianças). Um grande terreno com vários tipos de árvores, um gramado extenso, uma grande piscina, campinho de vôlei e algumas coisinhas plantadas como tangerina, pimenta e erva doce.

Mas as pessoas, essas sim, eram o diferencial daquele lugar. Todos atualmente possuem nomes de origem Hebraica, foram rebatizados em sua nova comunidade, das Doze Tribos de Israel. Demorei um pouco para entender o contexto histórico desse movimento, que teve início há algumas décadas nos Estados Unidos. Trata-se de uma comunidade, hoje com dimensões mundiais, que procura seguir a bíblia, ao que eu entendi, sem influência de nenhuma religião ou igreja. Não há um rótulo específico pra esse modo de vida, como “cristãos” ou “judeus”. Há, na verdade, a pura e simples interpretação da bíblia como um “manual da vida e da convivência humana na Terra”.

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Assim que cheguei, tive algumas conversas um pouco mais esclarecedoras sobre a comunidade. Hafshi, um rapaz alto, bem magro, barba e cabelos compridos e um óculos estilo Harry Potter, pés descalços, também me saudou com um “Bem-vindo” sincero e me entregou uma linda cesta de boas vindas, com frutas secas e orgânicas, o chá da comunidade (Tribal) e biscoitos caseiros. Também havia um bilhetinho, uma abelha desenhada à mão por Echet, esposa de Shemuel, dizendo que estavam felizes em me receber, e claro, encerrando com “Bem-vindo”.

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Tomei um mate quente e já fui com Shemuel tratar do composto que estavam montando no terreno. A comunidade vende produtos e temperos orgânicos, os chás da Tribal de produção própria, e em Itapecerica têm uma parceria com o Box da Luciana, no CEASA, que envia frutas, verduras e legumes orgânicos para secagem.

Enquanto tinha conversas fantásticas com Shemuel, cuidávamos do terreno, do composto e das frutas secas. O primeiro dia já foi bem puxado fisicamente, mas o espírito e a mente estavam a todo vapor e nem cansado eu me senti. Às 18h, todos os dias, todos se reúnem em roda na sala, agradecem, cantam e dançam canções da comunidade, e seguem pro jantar. A comida é sempre farta e muito bem preparada. Comi a semana intei

ra como nos banquetes de filmes medievais, incluindo frutas e sobremesas.

IMG_0072Ajeitei o Adventureiro no gramado atrás da casa. Minha primeira noite dormindo dentro do carro foi uma bela tempestade! E na boa, não poderia ter sido melhor. Dormi aconchegantemente, quentinho, no cantinho que preparei com tanto carinho. Detalhe é que eu sequer tinha dormido nele antes pra fazer aquele teste maroto. Não, foi estreia sem ensaio, e foi perfeito. Em uma semana, acordei com: 1. esquilos correndo pelas árvores; 2. Um gambá enorme fugindo pelo muro; 3. Um nascer do sol lindo e Hafshi cantando; 4. uma chuvinha que implorou pra eu ficar dentro do carro; 5. Gidon tocando violão; 6. Iafia cantando suavemente; 7. Maamnah tocando violino e Uriyah tocando violão.

Minha rotina naquele sítio foi bem bacana e já muito diferente do meu dia-a-dia anterior. Às 7h todos se reuniam à mesa, abriam suas bíblias e comentavam alguma passagem, sempre relacionada a um terma importante. Todos conheciam muito sobre cada passagem e argumentavam sobre sua interpretação com muita clareza. Em seguida agradeciam, e tomávamos café da manhã. A alimentação é 90% orgânica, e tem os mais variados alimentos. Após o café da manhã, eu seguia pra atividades no sítio.

As conversas com cada integrante dessa grande família foram extremamente enriquecedoras. Pessoas muito cultas, a maioria falava inglês (e lia a bíblia em inglês – imagine isso! Já era difícil eu entender alguns trechos em português..rs), tocam instrumentos de todos os tipos (flauta, violino, arpa, além do violão), conhecem sobre outras culturas e estilos de vida, mas acreditam nas mensagens da bíblia muito além do mundo em que vivemos, como a relação entre homem e mulher, pais e filhos, com a natureza, o Apocalipse e as profecias. Têm Jesus como seu mestre, portanto fecham-se nessa comunidade e procuram aplicar essa interpretação (no mínimo interessante) da bíblia. Ou seja, não há influência de nenhuma mídia: TV, filmes, séries, livros, música; nada disso tem espaço na comunidade, a não ser suas próprias músicas e livros, sempre em referência a Jesus. Os relacionamentos amorosos são completamente diferentes do que estamos acostumados. O tratamento do dinheiro é diferente. A criação das crianças é diferente. Os adultos mesmo ensinam às crianças matemática, geografia, idiomas, biologia, química, física, música, etc.

Eu nunca fui muito envolvido nesse assunto de religião, embora tenha feito crisma.IMG_0074 Mas tive um novo ponto de vista sobre a bíblia como livro histórico, e de Jesus como mártir, tal qual foram outros, como Gandhi ou Mandela. O que me deixou muito intrigado, foi a forma como esses assuntos eram tratados, fosse entre eles, ou comigo. Em nenhum momento houve algum conflito de opiniões que não pudesse ser debatido em alto nível. Eu, claro, fiz diversas provocações (saudáveis) sobre os assuntos dos quais tinha mais curiosidade, e sempre obtinha respostas muito interessantes, sem nenhuma persuasão ou repreensão. Shemuel, com quem eu passei mais tempo nas atividades diárias e tive as conversas mais engrandecedoras possíveis, sobre Deus, a vida, a natureza, o universo, todas esses assuntos que nos levam em viagens através de palavras e olhares, tinha sempre um ponto de vista bem estabelecido sobre temas “polêmicos”.

A comunidade FUNCIONAVA. Isso era o que realmente importava pra mim. Ficou claro que “a cola” que mantinha tudo e todos conectados, era a fé na bíblia. Mas me mostrou que é possível encontrar uma forma de unir pessoas que se preocupam com o bem de todos, onde as necessidades e vontades individuais são sempre respeitadas, mas se consegue chegar a um ponto de acordo entre os indivíduos da comunidade (unidade comum),  e FUNCIONA. Tem problemas, tem conflitos, mas tudo é resolvido utilizando os superpoderes que recebemos da natureza, o cérebro, o discernimento e o amor. Como eles mesmos diziam lá, amor não é só um sentimento, amor é ATITUDE. De cuidar, de compreender, e muitas vezes de respeitar e ceder, por um bem maior que nossos próprios egoísmos. Definitivamente um mundo novo, logo na primeira semana.

Na sexta-feira, minha mãe, Eli, Alice e Dan foram nos visitar. Enfrentaram o maior perrengue, chuva e trânsito, mas chegaram bem. Comemos uma pizza caseira deliciosa e pude presenciar essas duas mulheres que eu amo tanto se divertindo com as danças e canções. Pessoas que nem se conheciam, com objetivos em comum, mas com modos de vida tão diferentes, são colocados frente à frente por algum motivo, e disso sai uma dança cheia de harmonia e alegria. Sendo a melhor versão deles mesmos.

A comunidade também está estabelecida em Londrina e Campo Largo, e nessa última eu ainda passarei pra conhecer. Rumo a próxima parada: Ibiúna!

Mais fotos e comentários no meu Facebook: Victor Reider Loureiro.

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