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O dia em que virei o “Porto do Avesso”

A primeira (e provalmente única) coisa que vocês precisam saber sobre mim antes de aprofundar a leitura deste artigo é que eu adoro História, mas não sou muito fã de tours.

Fico sempre com a ideia de que é demasiado turístico, demasiado superficial. Na verdade, demasiado, sem ser mesmo demasiado. É como se fosse à piscina, mas ficasse apenas na borda.

Entretanto, fazia um dia tão bonito, que mesmo se fosse para ficar à beira da piscina, eu ia. Mergulhar no Porto vale sempre a pena em um dia de sol de inverno.

Encontrei a Suzana, gerente e guia da Porto do Avesso, na Sé do Porto, em frente à famosa estátua de Vímara Peres. Mesmo quem não ache que seja tão famosa assim, não teria dificuldades em localizá-la, pois todos os clientes recebem, além da indicação precisa, uma fotografia do ponto de encontro. O sotaque muito familiar eu reconheceria de longe, apesar da incerteza da exata posição geográfica. “De onde no Nordeste você é?” “De Recife”. Bingo! Eu sabia.

Fazia uma temperatura curiosamente agradável para meados de fevereiro e, de casacos na mão, fomos “virar o Porto do avesso”. O nome da empresa, que começou a operar em 2017 e na qual todos os guias são graduados em História, deixa clara a proposta de mostrar a cidade muito além da superfície. É o melhor destino Eeuropeu em carne viva, exposto em ricos detalhes culturais e históricos que não descobrimos em qualquer pesquisa do Google. Faça sol, chuva ou nortada (o típico vento temperamental do Porto), de segunda a sábado, é possível agendar um walking tour para deslindar a Invicta.

Começamos pela Sé, precisamente por ser a parte mais antiga da cidade. Pena Ventosa, cale, o ponto mais alto até então, de onde se podiam avistar invasores e preparar o revide. Dali rumamos para 3 horas de caminhada.

Sé, a Catedral com detalhes na fachada que só os olhos mais treinados percebem, uma das ruas mais antigas do Porto, as marcas indicativas do Caminho de Santiago e de Fátima, a Mouzinho da Silveira, que tem um rio a correr por baixo, a Ribeira que sempre foi o coração da cidade, as Alminhas da Ponte, a igreja que foi movida pedra por pedra para cerca de 4 ruas depois, a rua mais badalada “daqueles tempos”, a Afonso Martins Alho.

“Você sabe o que significa a expressão ‘fino como o alho’?”. Quase 6 anos de Porto e não sei. Não sabia, aliás. Fina como o alho que sou, até posso repassar a explicação agora, com riqueza de detalhes. Quase 6 anos de Porto, tantos visitantes amigos conduzidos à Estação de São Bento e nunca reparei tão bem nos seus paineis como naquela tarde.

Cada pequeno azulejo ali colocado não é por acaso. Nada nesta cidade, aliás, é por acaso. Nada. Muito menos os vários prédios arquitetados por Nicolau Nasoni. Nada. Muito menos as centenas de hortas do bispo que cobriam a cidade há 4, 5 séculos. Nada. Muito menos a Rua 31 de Janeiro, onde tantos tombaram em conflito sangrento com a monarquia pela Proclamação da República.

O passeio acaba quase no ponto de partida. Um pouco mais à frente, na verdade, no tabuleiro superior da ponte Luís I. É ali, disputando lugar com a linha do metro e dezenas de adolescentes eufóricos, que encontramos o nosso miradouro, onde sempre está a melhor vista do Porto, mesmo nos dias mais nebulosos e acinzentados. Ali eu concluo que saí de casa pensando em ficar só no raso e acabei imersa. Toda eu era a história do Porto naquele momento.

Essas ruas e lugares são a minha rotina desde que mudei para esta cidade. Não vivi em outra zona do Porto que não o Centro Histórico e, apesar de volta e meia tropeçar no que resta da Muralha Afonsina, nunca tinha prestado atenção nisto, nisso e mais naquilo.

Mas ainda faltava o fado, algo que eu também ainda não tinha experimentado. O famoso estilo musical, dizem, sente-se. E lá nos acomodamos para a sessão das 18h no pequeno auditório da Casa da Guitarra. À volta, francês, inglês, espanhol e japonês era o que se ouvia nos outros cerca de 30 assentos. Quando a intérprete Ana Margarida, imponentemente, espalhou os primeiros versos da música, questionei-me onde estaria o microfone: ele simplesmente não estava. Foi uma hora de puro entorpecimento, e não teve a ver com a prova de vinho do Porto que aconteceu durante o intervalo.

Uma das minhas preocupações ao escolher esse tour foi o cansaço. “Três horas de caminhada e mais uma de show? Vai ser como se tivesse corrido uma maratona!”. Não passou nem perto. Ao fim de tudo, estava pronta para outra. A Suzana esclareceu que os roteiros foram pensados para serem sempre descidas porque para baixo, todo santo ajuda. Em uma cidade de muitos relevos como o Porto, essa é uma vantagem: poupa-se energia e fôlego para o que realmente importa.

Quando saímos do espetáculo já estava escuro, já fazia o frio normal desta época do ano. Olhei para a Sé mais uma vez, a tremer com o vento gélido, despedi-me da Suzana e voltei para casa pela Rua de Santa Catarina das Flores, aquela que eu até então conhecia apenas como Rua das Flores. “Sabes o que é que significa ‘fino como o alho’?” foi a primeira coisa que disse ao meu marido. Ele sabia, mas eu fiz questão de explicar.

Porto do Avesso

Dias: segunda a sábado
Horários: flexível
Preço: de 25€ a 80€
Indicação: pessoas interessadas em passeios com apelo histórico pela cidade do Porto
Reservas: [email protected] /+351 220 962 523 / +351 912 019 625
Site: http://www.portodoavesso.com/pt

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