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Viajar sendo cego

Eu fui picado pelo mosquito das viagens por conta das histórias que meu pai me contou sobre suas viagens com a Marinha Mercante. Um dos meus amigos da escola começou a ir a shows e ficar em albergues durante a noite, então comecei a ir com ele. Minha primeira viagem foi para Norwich, na Inglaterra.

Eu sabia que viajar como uma pessoa cega nem sempre seria fácil, mas eu fui criado com a motivação de pensar positivo. Uma vez que minha mãe parou para pensar no fato de que ela tinha um filho com deficiência, ela quis me dar o máximo de independência possível.

Minha descoberta de viagem aconteceu quando fui estudar em uma universidade em Carolina Sul. Meus amigos organizaram uma ida à Flórida após o fim do semestre. Mickey Mouse não é muito a minha praia, então eu decidi ir para Nova Orleans por conta própria. Muitas pessoas me advertiram que era uma cidade perigosa – mas eu estava determinado.

Foi em Nova Orleans que me dei conta da imensidão do que estava fazendo. No hostel eu consegui informações sobre a direção da parada de bonde que eu precisava para ir até a Bourbon Street. Saí do hostel e simplesmente congelei. Meu corpo inteiro tremia de pânico. Mas eu disse para mim mesmo: “isso é o que você queria. Se você não quiser, vá para casa”. Eu respirei fundo, virei à esquerda, andei pela rua e nunca olhei para trás.

O meu maior problema é o dinheiro. Na Inglaterra as notas são de tamanhos diferentes, mas nos Estados Unidos não. Eu sei que se eu receber US$100 do banco vem geralmente em cinco notas de US$20. Contanto que me lembre do que gastei, tudo bem. Eu já recebi muitos trocos errados no passado – isso faz parte da viagem.

Ser cego significa que eu aprecio coisas diferentes. Obviamente, eu não estou olhando para o pôr do sol ou as belas cores das flores. Eu aprecio as coisas através dos meus pés em vez disso, como quando estou subindo uma montanha, ou através da minha pele, se eu estou andando pela selva, ou através da minha audição.

Eu posso detectar mudanças na temperatura e no espaço. Eu sou todo consciente da energia ao meu redor. Se eu estou caminhando por um caminho e entrar em um campo aberto, posso detectar que a energia mudou e um espaço se abriu. O mesmo se eu estou caminhando através de uma floresta, posso dizer que o ar se tornou comprimido e que o espaço é muito mais apertado.

Diferentes cidades cheiram de forma diferente. Bangkok tem um cheiro sujo de fumaça misturado com incenso. Essa é a minha visão de um país: os sons e o cheiro. Portanto, lugares como Istambul ou Bangkok são ótimas se vocês são deficientes visuais.

Eu tenho que contar com a ajuda de estranhos durante a viagem. As pessoas na Turquia foram particularmente prestativas: elas me ajudariam a voltar para o hostel e iniciar uma conversa. Grandes cidades nos Estados Unidos são difíceis e eu achei o Marrocos bastante complicado. Às vezes, a barreira linguística pode fazer com que os lugares pareçam mais hostis do que realmente são.

Ser cego pode quebrar as barreiras, especialmente com as mulheres – elas gostam do fato de que eu não estou olhando para elas como objetos sexuais. Além disso, estou confiante e disposto a brincar sobre a minha cegueira, o que ajuda uma vez que as pessoas superam o choque de ver uma pessoa cega viajando por conta própria.

Eu quase sempre viajo sozinho. Eu gosto do desafio. Comecei a viajar com a minha namorada, que é cega também. É ótimo, mas causa problemas – eu sou mais protetor. Se eu esbarro nas coisas, eu não me importo. Quando ela esbarra nas coisas eu tenho um ataque cardíaco!

Tony Giles no Senegal

[su_box title=”Sobre o viajante inspirador de hoje” box_color=”#56a1bf” title_color=”#ffffff” radius=”0″]Tony Giles é cego, surdo de ambos ouvidos  e tem um rim transplantado. No entanto, já passou pelos sete continentes do mundo, todos os 50 estados dos Estados Unidos, o Polo Norte e mais. Hoje se encontra explorando o Japão. [/su_box]

Este texto foi publicado originalmente em inglês na Lonely Planet Magazine: Na estrada e pode ser conferido no blog do Tony, em inglês.

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