De onde vem o dinheiro para viajar? A verdade (da maioria) dos viajantes frequentes
Há certos momentos em que é bom por os pingos nos Is. Seja para ajudar quem também quer achar um caminho próprio ou até mesmo por uma questão de justiça com quem está do lado de cá.
Dinheiro é um bem (ou mal) necessário na maioria dos lugares. Certo? É com ele que conseguimos fazer das coisas mais triviais, como alugar uma casa, pagar as contas, comprar comida, roupas; ou nos proporcionar grandes e pequenos luxos, como pagar a Netflix. É com ele também que, na maioria das vezes, podemos viajar.
Aí você se pergunta: “por que maioria”? “Não é sempre”? Veremos já.
“É preciso ser rico para viajar”
Essa história de “só viaja quem é rico“ já é batida e desmistificada aqui no Já Fez as Malas?
E mesmo no caso de quem tem condições financeiras favoráveis, não sei porque a pessoa tem que se sentir constrangida por viajar muito. Eu, pelo menos, não constranjo ninguém que queira torrar rios de dinheiro em cafés da Starbucks, roupas caras ou carros novos. Cada um escolhe e investe naquilo que acha melhor.
Pois meu caro, como tudo na vida, viajar é uma questão de escolha, prioridades e, para os que gostam de economizar ou simplesmente não têm outra alternativa – como eu – uma questão também de muito planejamento.
Quanto custa seu estilo de vida?
Essa semana recebemos uma mensagem de uma leitora que era direcionada a mim e no pequeno texto ela comentava que admira bastante este estilo de vida. Penso eu que se referia ao que é muito propagado hoje em dia através das redes sociais: cada dia em um lugar novo, conhecendo pessoas novas, cenários paradisíacos, alguns hotéis luxuosos e banquetes de dar água na boca.
Aquilo tudo que esbajam não só os digital influencers, mas cada dia mais pessoas que têm outras ocupações e resolvem também compartilhar as andanças que têm feito mundo afora nas redes sociais.
Então, no final da mensagem veio o tipo de pergunta que vale ouro e recebo semana sim, semana não: “quanto custa seu estilo de vida“? “Quanto preciso ganhar para poder viver assim também”? “Viaja tanto… o dinheiro vem de onde, hein”?
Vamos em doses homeopáticas…
Fazendo a múmia na Croácia, aproveitando os últimos dias de sol antes do inverno (Dubrovnik, 2016)
1) Qual o seu estilo de vida?
Como tudo na vida é relativo, não existe uma resposta única e total para essa pergunta. Por exemplo, 80% dos alimentos que consumo são de marcas brancas dos supermercados. Isso porque na Europa as marcas próprias dos supermercados são tão boas quanto às outras e apresentam preços muito mais baixos. Além disso, vou garimpando onde cada coisa é melhor e mais barata e vou comprando aos picados.
Logo: nesta minha escolha faço muito economia todos os meses. Assim, consigo ter tudo que quero e preciso – vinhos, queijos e frutos do mar inclusos, quando dá vontade – e mesmo assim manter o orçamento.
Agora amplie esse conceito para todas as esferas da vida: do que você abre mão, por questão de economia ou porque não acha tão necessário, e o que você faz questão de ter?
Outro exemplo: eu não uso roupa de marca. Aliás, esses dias comecei a ver as minhas fotos de viagem e notei que raramente passo dos 30€ somando todos os itens da cabeça aos pés. Não quer dizer que não tenha coisas novas e esteja sempre vestida de forma fuleira – espero que não -, apenas que eu não ligo para etiqueta. Compro quase sempre em saldos, mas também se vejo algo que queira ou precise e possa comprar: compro (muito amor, Natura!).
Fazendo a blogueirinha da pechincha!
O que quero dizer é que para viajar mais você não precisa abrir mão de tudo. Eu trabalho com meu computador, celular e câmeras: escrevendo, filmando, editando, respondendo a leitores o dia inteiro e, na maioria das vezes, sozinha.
Por isso, faço questão de no fim do trabalho ir para fora, longe das telas, para espairecer. Junto com esse hábito, me permito comer fora com os amigos de vez em quando, comer uma sobremesa que goste em algum lugar, comprar um livro ou uma tralha da Tiger quando dá vontade e assim por diante.
Se faz bem para o meu bem estar e posso arcar com o custo, não abro mão para viajar para outros lugares, pois a vida é feita de diversas esferas. Uma vez que se viaja com frequência, também acabamos por procurar um equilíbrio. Cada coisa tem sua importância e lugar.
2) Com o que você trabalha?
Minha primeira experiência como freelancer foi em 2014, quando fui fazer mestrado em Portugal e trabalhei à distância para a mesma empresa que já trabalhava em São Paulo. Hoje faz pouco menos de um ano que deixei de trabalhar maioritariamente para outras empresas e foco 90% da minha energia e tempo nos meus projetos.
Naquela época estava presa a um lugar específico, pois tinha aulas quase todos os dias na faculdade, mas agora posso trabalhar de casa, da praia, da montanha, de onde eu estiver (desde que tenha internet e onde carregar meus equipamentos todos, por favor).
Trabalhando do café “La Bicicleta” (Madrid, 2017)
Recentemente abri minha empresa em Portugal na área de turismo e marketing digital para acomodar os serviços que presto e pagar os impostos devidos das minhas atividades. Ou seja, trabalho como qualquer outra pessoa, mas de forma independente. Aqui está outro segredo.
Tenho muito mais responsabilidades e, às vezes, menos tempo livre do que quando trabalhava para terceiros, mas em troca, tenho muito mais flexibilidade e motivação, pois trabalho com o que quero e faço meu horário.
Trabalhando do Four Seasons Ritz (Lisboa, 2017)
Como qualquer início de empresa, as contas são difíceis de fechar no azul. Os impostos são altos, as contas para pagar muitas e a renda baixa, mas mesmo assim consigo viajar constantemente. Por que e como? Pois esse é o combustível para o meu trabalho e hoje em dia faz parte das minhas necessidades. É aquilo que faz sentido eu investir.
Para os que não sabem ou não entendem qual é o meu trabalho, estão visitando agora mesmo a sala de visitas do meu escritório: este site, cada artigo que escrevi, cada vídeo que já produzi. Se não viajo, como posso ser editora de um site que fala, dentre outras coisas, sobre viagem (quem lembra do meu antigo canal com esse nome)?
Devo tudo isso graças à formação que escolhi e investi anos da minha vida e milhares de reais/euros: comunicação e multimeios, jornalismo, conteúdo, fotografia, vídeo e marketing digital. Esse conhecimento todo me proporciona a possibilidade de não ter que parar minha vida e rotina para viajar, pois as duas coisas andam juntas.
Vou trabalhando e viajando ao mesmo tempo, como aquilo que chamam de nômade digital. O dinheiro, mesmo que pouco, vai caindo aos poucos conforme os trabalhos – onde pinga, não seca.
Filmando no terraço do espaço Gourmet do El Corte Inglés (Madrid, 2017)
3) Qual seu estilo de viagem?
A primeira vez que fiquei em um hotel foi no fim de 2014. Antes só sabia o que era hostel. Gostei da experiência? Claro. É muito confortável ter uma série de serviços ao seu dispôr, café da manhã incluso (melhor parte ever) e às vezes até rola um tempo no spa, piscina e outras coisas boas. Mas isso normalmente tem um preço e isso não significa apenas dinheiro.
Café da manha 5 estrelas em Lisboa \ Café da manhã com todas as geleias que achei no hostel em Amsterdam
Aí você está pensando: então, se você não é rica ainda (não terei problema nenhum em ser no futuro, seja fruto do meu próprio trabalho ou euromilhões), como paga por estes lugares que têm visitado? Mais uma vez a resposta é simples: acredite, isto é trabalho. Uma vez que se tem uma mídia com algum impacto e audiência, é normal que marcas e empresas queiram se juntar para alguma parceria, divulgação ou mesmo publicidade. No caso dos hotéis e outros setores, em vez do dinheiro é comum a influência ser usada como moeda de troca.
Aliás, para quem não sabe, é isso que acontece na maioria das vezes que os influencers postam uma fotografia marcando alguma empresa e agradecendo por algo. Por quê? Normalmente, eles não pagaram por aquilo com dinheiro, mas com divulgação (quadro “coisas grátis”, da Thaynara OG. Saca?).
Além disso, eu particularmente e muita gente que viaja com frequência passa boa parte do tempo em casa (ou algo do tipo), mas não ficamos postando fotos na hora da faxina ou assistindo às séries favoritas (spoiler: eu posto no stories!). O glamour todo é só uma fração da nossa vida.
Como ter este estilo de vida?
Posso ser sincera? Não é preciso ter milhares de seguidores ou fazer das viagens um negócio para poder viajar mais, isso é apenas um dos combustíveis que faz a máquina girar e não parar. Vou citar alguns nomes que podem expandir seus horizontes e ajudar os que têm pequenos orçamentos, como eu: Booking.com, CouchSurfing, Airbnb (alugando com mais pessoas sai bem mais barato que hostels às vezes), Work and Travel, etc. Se estiver na Europa, apresento minhas amigas Ryanair, EasyJet, WizzAir, Belgium Airlines e outras empresas áreas low cost para serem suas bests também!
Para voos de longas distância ou companhias mais caras, existem inúmeros programas de milhas e recompensas para passageiros frequentes. É uma questão de se informar e pesquisar bastante.
Além disso, cada destino tem seu custo. Uma semana em Budapeste sai infinitamente mais barato que uma semana em Nova York. É importante levar tudo isso em consideração quando se quer viajar com frequência ou até mesmo de forma permanente.
Voo de 9€ pela Ryanair (algum lugar no ar, 2017)
E amigos. Novos ou antigos: por que não, ir visitá-los e ficar na casa deles por uns dias (estou viajando e fazendo uma série para o YouTube me hospedando na casa de pessoas que conheci por meio de amigos ou na internet, ainda não viu)?
Só para reforçar: o próprio site que está lendo foi feito exatamente para dar dicas a pessoas que têm também esse objetivo de viajar e conhecer novas culturas.
O que importa na verdade
Viajar faz parte de viver. Se sua sede de conhecer o mundo com seus próprios olhos é grande, planeje-se de acordo com as suas possibilidades. Não é preciso abrir mão da sua qualidade de vida apenas para contar países e ter mais fotos no Instagram. Aliás, quando se trabalha com viagens o que vai para lá é muito bem escolhido para causar algum tipo de impacto. Mas garanto, a melhor parte, muitas vezes, a gente nem posta, manda para os mais próximos (os meus que o digam)!
Nenhuma jornada faz sentido se não tiver um propósito real e que faça sentido para você. E nenhum dinheiro – ou falta de – tem que ser motivo para te limitar.
Nesta galeria dos horrores tem desde eu jantando Ruffles em hotel cinco estrelas e acordando às 6h para fotografar o nascer do sol (depois de editar vídeos até às 3 am), até uma entrevista na TV
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