Topless e nudismo na Espanha
É engraçado ver a cara de um espanhol quando eu digo que topless no Brasil não é praticado e poderia até ser considerado como crime segundo uma má interpretação de alguma lei que eu não sei exatamente qual é.
Como eu posso explicar que aquele país que sempre passa na televisão nos dias de carnaval, com mulheres seminuas e sambando, não aceita esse simples gesto de deixar os peitos aparecendo na praia? Como é que isso acontece no país que tem a fama de ter os menores biquínis? São esses os tipos de questionamentos que eu realmente não sei responder quando esse assunto vem à tona por aqui.
Confesso, que quando eu cheguei aqui, estranhava um pouco. Nunca foi normal para mim o topless e ver todas aquelas mulheres, com peitos morenos, passeando por aí, de certa forma me chocava um pouco. E olha que eu não sou conservadora (será?). Percebi que eu era sim! Era conservadora, como a maioria das pessoas do Brasil.
É uma questão cultural
Não tinha percebido isso até vir para cá e notar essa diferença de cultura. Aqui passam filmes com cenas de sexo de tarde, passam programas com gente pelada às dez e meia da noite e nada disso vira escândalo. Enquanto no Brasil, há um tempo atrás teve um escândalo por causa de um beijo gay na televisão.
Se isso significa que os espanhóis são super liberais? Não… só significa que cada país tem os seus costumes e a forma que fomos educados faz a gente ver certas situações com normalidade ou não.
É por isso que aqui ninguém fica espantado em ver topless ou alguém praticando nudismo. É normal, está na cultura. Não tem gente tirando foto, pessoas chocadas e piadinhas. É só mais um dia normal em alguma praia espanhola.
Porém, mesmo com toda essa liberdade do topless, tem algumas coisas que dá para notar muito bem. Geralmente, nas praias mais cheias e famosas, quem normalmente faz topless são mulheres novas ou com peitos considerados “bonitos”, muitos deles moldados cirurgicamente. Dá para ver que são poucas as que aderem a prática.
Só que aqui tem muitas praias menos conhecidas ou não tão cheias. Muitas regiões formam praias pequenas por causa da geografia daqui. Nessas, as mulheres se sentem muito mais a vontade e geralmente você vê muitas fazendo topless.
E não para por ai, porque nesse tipo de praia, as pessoas realmente se sentem bem a vontade e isso passa a incluir os homens também. Geralmente, é onde algumas pessoas praticam o nudismo.
O que me fez quebrar outros paradigmas que eu tinha na cabeça: de que devia existir uma praia exclusiva para nudista, em algum lugar isolado e que existia até um certo preconceito com quem frequentava.
Aqui não existe isso. Mesmo não sendo praias oficialmente de nudismo (nem sei se existe isso aqui), sempre vai ter pessoas sem roupa. Algumas praias mais que as outras, mas quase sempre tem. E sabe o que eu acho disso? Maravilhoso!
Eu acabo indo muito nessas praias menores para poder entrar com o meu cachorro e, geralmente, as pessoas que praticam o nudismo são mais abertas a ver os animais na praia (e está sempre cheio deles). Então, eu fui me acostumando… e a medida que fui me acostumando, fui me apaixonando por esse tipo de comportamento.
Porque nessas praias ninguém está preocupado com o corpo, eles só querem saber de curtir e aproveitar a natureza. Não tem coisa mais fofa, que as crianças correndo por ai, totalmente livres de vestimentas impostas pela sociedade. E com isso, fui percebendo a diferença de cultura. Por que em um cenário tão natural como a praia a gente tem que se tapar?
Lembrei que as praias de nudismo no Brasil tem várias regras e uma delas é que você DEVE estar sem roupa. Poxa, até para estar em contato total com a natureza a gente tem regra?
Aqui ninguém liga como você está. Na mesma praia, tem gente vestida, pelada, topless… o que você quiser! E isso é muito bonito! Esse respeito que existe em cada um fazer o que quiser. Sem julgamentos.
E aquela marca de biquíni tão valorizada que as brasileiras têm? Que chegam até a colocar fita adesiva para ficar perfeitamente marcada. Por aqui não faria muito sucesso. Ninguém aqui volta da praia mostrando a marca de biquíni para mostrar o quanto se queimou. Coisa que eu fazia com orgulho antigamente, mas confesso que comecei a gostar mais da versão “sem marcas de biquíni”.
Eu ainda não estou 100% adepta a esse costume, mas confesso que já me entreguei diversas vezes a ideia mesmo morrendo de vergonha. Afinal, a vergonha passa, mas esses momentos de integração total com a natureza e de liberdade do nosso ser, não podemos deixar passar.
Como eu disse, isso não significa que os espanhóis não têm preconceito em todas as áreas, mas essa em especial, eu gosto muito! Então, eu espero que estejamos caminhando para um mundo com mais liberdade, menos julgamento e que possamos aprender o lado bom das culturas vizinhas.
Este conteúdo é de total responsabilidade do autor da coluna Julia Queiroz.
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